quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Branca Di Neve meteu bronca no suingue




Muito já se falou e comentou sobre o artista Branca di Neve ou Nelson Fernandes Morais ou ainda simplesmente Nelsinho como era chamado pelos mais chegados do bairro do Bixiga. Nascido em São Paulo em 1951 ele foi um cantor, compositor e instrumentista respeitado no meio do samba e da MPB. Seu reduto era a Vai Vai, mas podia ir ao Camisa, na Barroca, onde fosse, que era bem chegado. Seu instrumento mais celebrado era o surdo, do qual tirava um som macio e de grave afinado que os mais empolgados o comparavam a um contrabaixo com baqueta. Branca tocou com Toquinho e com ele excursionou para o exterior. Tocou também com Luiz Vagner Guitarreiro, Jorge Ben Jor, Nara Leão e Baden Powel. 


Conseguiu o devido respeito como percussionista e por isso era chamado constantemente a tocar surdo para vários artistas em apresentações e nas gravações em estúdio. Foi frequentador assíduo de várias casas de shows como a São Paulo Chic, Som de Cristal, Aristocrata, Paulistano da Glória, Jogral, Cartola, Teleco Teco, Villa Samba, Barracão de Zinco, Moema Samba e por onde passou sempre fez a famosa canja ou acompanhou os artistas nesses palcos. Em 1978 entrou para o grupo Os Originais do Samba no lugar do falecido Rubão do surdo. Nas capas dos discos Clima Total de 1979 e num compacto de 1980 (aqui) se vê um Branca di Neve novinho e sorridente. 


Em 1981 ele já estava gravando o seu primeiro trabalho pela gravadora independente Mauricris com o título de Branca Mete...Bronca – Pobre Moleque. Ele ainda grafava  Branca “de” Neve e não “di Neve” como depois ficou conhecido. Era um compacto que já mostrava o caminho que iria trilhar, o “balansamba”, incluía as músicas Salgueiro Raiz (Luiz Carlos Xuxu/Branca de Neve) e Pobre Moleque (Valdir da Fonseca). Curiosidade que a música Salgueiro Raiz saiu depois no seu primeiro LP com umas pequenas modificações: no nome do autor Luiz Carlos tiraram o “Xuxu” e no título acrescentaram: Salgueiro “É Uma” Raiz, mas se trata da mesma música. Continuou na percussão só esperando uma oportunidade para registrar o seu talento e paralelamente se dedicou ao violão.


Até que em 1987 surgiu a chance de um LP inteirinho só seu. Finalmente iriam conhecer a voz rouca, mas cheia de estilo de Branca di Neve. E deu no que deu, o disco vendeu muito bem e as apresentações com sua banda (batizada com o nome de Mandela) estouraram. Uma carreira de sucesso pela frente era o que pretendia. Mas infelizmente o destino quis diferente, ele faleceu de derrame cerebral quando finalizava seu segundo LP (Branca Mete Bronca Volume 2) em agosto de 1989. Uma perda irreparável para a música, muita comoção de familiares, amigos e fãs. 


Esse é um daqueles personagens que merecia um documentário, um livro, sei lá uma atenção maior, pois tem uma trajetória digna e deixou um legado musical. Em 1996 numa coletânea da 105 Fm/Paradoxx saíram duas músicas inéditas em sua interpretação; Preces ao Infinito e Lá Vem Salgueiro. 


Nessa coletânea abre-se um registro para um grande deus-nos-acuda, a música Lá Vem Salgueiro é a mesma Salgueiro é Uma Raiz, mudando apenas os arranjos, pois foram gravados em períodos diferentes. Haja vista que existe o samba exaltação, da Escola de Samba Salgueiro com o nome de Lá Vem Salgueiro, na verdade a letra que foi feita pelo Branca di Neve usa-a como música incidental. Botando mais lenha na fogueira, não confundir com a Lá Vem Salgueiro gravada pelos Originais do Samba, outra letra e outra pegada...só queria saber como ficou os direitos autorias dessa mistura toda...


O blog dimiliduques põe a disposição o LP Branca Mete Bronca – Volume 1.Foi gravado no estúdio Gravodisc em São Paulo e saiu pela gravadora Continental em 1987. No repertório músicas compostas por Branca di Neve, Zelão, Marku Ribas, Jota Veloso, Itamar Assumpção, Jorge Ben Jor, Bedeu e outros. Eu pessoalmente gosto muito das faixas, Boca Louca, Reprise, Pensamento Verde, Salgueiro É Uma Raiz, Kid Brilhantina e A Cor de Deus. Outro detalhe é que a ótima faixa Nego Dito (de Itamar Assumpção), saiu nos dois volumes. Tempos depois Charles Gavin lançou pela WEA, no volume 6 da série Dois Momentos os dois discos da carreira de Branca di Neve. 


O volume 1 é um disco bem balançado, alegre, colorido com metais certeiros e um suingue brasileiro de apuro e criatividade. Um clássico dos bailes e dos programas de rádio das grandes equipes black. Era frequente escutar seu som  na Band FM (Programas da Black Mad, Zimbabwe, Chic Show, Band Brasil), USP FM (O Samba Pede Passagem do grande Moisés da Rocha) e Sambalanço da Manchete FM.


Os arranjos foram do Maestro Edson José Alves e na gravação os músicos participantes foram - Pandeiro: Renato Pomba Gira, Tumbadora e Repique: Fredd, Tumbadora: Zé Roberto Peninha, Cuíca e Pandeiro: Osvaldinho da Cuíca, Repique: Mané do Arte Final, Timba: Valtinho do Arte final, Surdo: Branca di Neve, Bateria: Toninho Pinheiro, Baixo: Arismar do Espírito Santo, Guitarra: Edson, Teclados: Michel, Trombones: François/Azevedo, Sax: Cacá/Lambari/Pique Riverti/Pecci, 1º Trumpete: Tanilson, 2ºTrumpete: Nahor, Coral: Angela, Pérsio, Davi, Marcio, Quirino, Silvinha, Mônica Bastos e Vera Coutinho. 

 Clique na capa e suingue (contem duas faixas bônus: Pobre Moleque e Preces ao Infinito)

http://www78.zippyshare.com/v/76179585/file.html






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