Muito
já se falou e comentou sobre o artista Branca di Neve ou Nelson Fernandes
Morais ou ainda simplesmente Nelsinho como era chamado pelos mais chegados do
bairro do Bixiga. Nascido em São Paulo em 1951 ele foi um cantor, compositor e
instrumentista respeitado no meio do samba e da MPB. Seu reduto era a Vai Vai,
mas podia ir ao Camisa, na Barroca, onde fosse, que era bem chegado. Seu
instrumento mais celebrado era o surdo, do qual tirava um som macio
e de grave afinado que os mais empolgados o comparavam a um contrabaixo com baqueta. Branca tocou com Toquinho e com ele excursionou para o exterior. Tocou
também com Luiz Vagner Guitarreiro, Jorge Ben Jor, Nara Leão e Baden Powel.
Conseguiu
o devido respeito como percussionista e por isso era chamado constantemente a tocar surdo para vários artistas em apresentações e nas gravações em
estúdio. Foi frequentador assíduo de várias casas de shows como a São Paulo
Chic, Som de Cristal, Aristocrata, Paulistano da Glória, Jogral, Cartola,
Teleco Teco, Villa Samba, Barracão de Zinco, Moema Samba e por onde passou sempre
fez a famosa canja ou acompanhou os artistas nesses palcos. Em 1978 entrou para
o grupo Os Originais do Samba no lugar do falecido Rubão do surdo. Nas capas dos
discos Clima Total de 1979 e num compacto de 1980 (aqui) se vê um Branca di Neve novinho e sorridente.
Em 1981
ele já estava gravando o seu primeiro trabalho pela gravadora independente Mauricris
com o título de Branca Mete...Bronca – Pobre Moleque. Ele ainda grafava Branca “de” Neve e não “di Neve” como depois
ficou conhecido. Era um compacto que já mostrava o caminho que iria trilhar, o “balansamba”,
incluía as músicas Salgueiro Raiz (Luiz Carlos Xuxu/Branca de Neve) e Pobre
Moleque (Valdir da Fonseca). Curiosidade que a música Salgueiro Raiz saiu depois
no seu primeiro LP com umas pequenas modificações: no nome do autor Luiz Carlos
tiraram o “Xuxu” e no título acrescentaram: Salgueiro “É Uma” Raiz, mas se
trata da mesma música. Continuou na percussão
só esperando uma oportunidade para registrar o seu talento e paralelamente se dedicou ao violão.
Até que
em 1987 surgiu a chance de um LP inteirinho só seu. Finalmente iriam conhecer a
voz rouca, mas cheia de estilo de Branca di Neve. E deu no que deu, o disco
vendeu muito bem e as apresentações com sua banda (batizada com o nome de Mandela) estouraram. Uma
carreira de sucesso pela frente era o que pretendia. Mas infelizmente o destino
quis diferente, ele faleceu de derrame cerebral quando finalizava seu segundo
LP (Branca Mete Bronca Volume 2) em agosto de 1989. Uma perda irreparável para
a música, muita comoção de familiares, amigos e fãs.
Esse é um
daqueles personagens que merecia um documentário, um livro, sei lá uma atenção
maior, pois tem uma trajetória digna e deixou um legado musical. Em 1996 numa
coletânea da 105 Fm/Paradoxx saíram duas músicas inéditas em sua interpretação;
Preces ao Infinito e Lá Vem Salgueiro.
Nessa
coletânea abre-se um registro para um grande deus-nos-acuda, a música Lá Vem Salgueiro
é a mesma Salgueiro é Uma Raiz, mudando apenas os arranjos, pois foram gravados
em períodos diferentes. Haja vista que existe o samba exaltação, da Escola de
Samba Salgueiro com o nome de Lá Vem Salgueiro, na verdade a letra que foi
feita pelo Branca di Neve usa-a como música incidental. Botando mais lenha na
fogueira, não confundir com a Lá Vem Salgueiro gravada pelos Originais do
Samba, outra letra e outra pegada...só queria saber como ficou os direitos
autorias dessa mistura toda...
O blog
dimiliduques põe a disposição o LP Branca Mete Bronca – Volume 1.Foi gravado no
estúdio Gravodisc em São Paulo e saiu pela gravadora Continental em 1987. No
repertório músicas compostas por Branca di Neve, Zelão, Marku Ribas, Jota Veloso, Itamar
Assumpção, Jorge Ben Jor, Bedeu e outros. Eu pessoalmente gosto muito das
faixas, Boca Louca, Reprise, Pensamento Verde, Salgueiro É Uma Raiz, Kid
Brilhantina e A Cor de Deus. Outro detalhe é que a ótima faixa Nego Dito (de
Itamar Assumpção), saiu nos dois volumes. Tempos depois Charles Gavin lançou
pela WEA, no volume 6 da série Dois Momentos os dois discos da carreira de
Branca di Neve.
O
volume 1 é um disco bem balançado, alegre, colorido com metais certeiros e um suingue
brasileiro de apuro e criatividade. Um clássico dos bailes e dos programas de
rádio das grandes equipes black. Era frequente escutar seu som na Band FM (Programas da Black Mad, Zimbabwe,
Chic Show, Band Brasil), USP FM (O Samba Pede Passagem do grande Moisés da
Rocha) e Sambalanço da Manchete FM.
Os arranjos
foram do Maestro Edson José Alves e na gravação os músicos participantes foram
- Pandeiro: Renato Pomba Gira, Tumbadora e Repique: Fredd, Tumbadora: Zé
Roberto Peninha, Cuíca e Pandeiro: Osvaldinho da Cuíca, Repique: Mané do Arte
Final, Timba: Valtinho do Arte final, Surdo: Branca di Neve, Bateria: Toninho Pinheiro,
Baixo: Arismar do Espírito Santo, Guitarra: Edson, Teclados: Michel, Trombones:
François/Azevedo, Sax: Cacá/Lambari/Pique Riverti/Pecci, 1º Trumpete: Tanilson,
2ºTrumpete: Nahor, Coral: Angela, Pérsio, Davi, Marcio, Quirino, Silvinha,
Mônica Bastos e Vera Coutinho.
Clique na capa e suingue (contem duas faixas bônus: Pobre Moleque e Preces ao Infinito)