terça-feira, 18 de outubro de 2016

O pagode universitário do Samba nas Coxas

Grupo paulista formado em meados de 1992, na região do Paraíso, zona Sul de São Paulo, resultado de rodas de samba despretensiosas entre amigos. Essas rodas de samba começaram pelos idos de 1990 no colégio Dante Alighieri no festival FICO. Eles se apresentavam com o nome de grupo Brasil Com S. Depois na faculdade FMU no bairro da Liberdade, eram realizadas rodas de pagode nos intervalos das aulas e nos ensaios do Bloco Cascavel. Como os encontros tornaram-se cada vez mais frequentes, resolveram então formar um conjunto batizado por eles de "Samba nas Coxas", um grupo que tocava sem nenhuma pretensão profissional, somente aquela reunião informal, por diversão. 



Com o passar do tempo, formaram um público fiel, que passou a acompanhá-los em todas as apresentações pelos bares e casas noturnas da região de São Paulo como o Lambar, Refinaria e Toca do Coelho. O que era só por lazer, se tornou profissional e o grupo passou a contratar músicos renomados para integrar o conjunto e se apresentar em outras regiões. O nome em questão gera muita curiosidade, já que o senso comum diz que algo feito “nas coxas” é aquilo que é feito de qualquer jeito. Mas não é esse o caso do grupo, a explicação é simples, onde os instrumentos são colocados quando os tocadores estão numa roda de samba? Em cima das coxas é lógico, por isso o nome “Samba nas Coxas”. 



Lembro que alguns integrantes dos grupos de pagode da periferia tinham certo receio do Samba nas Coxas, pensando em se tratar de mais uma jogada de marketing o tal pagode universitário ou "uns boyzinhos brancos tentando tocar samba". Porém esse preconceito e desconfiança acabaram depois de se ouvir a qualidade deles e principalmente por ter o apadrinhamento e o "carimbo de aprovação" do grupo Sensação.



O primeiro album do grupo “Samba nas Coxas” foi lançado em 1994 pela gravadora Polygram, não tinha título mas ficou conhecido por Sabor do Pecado ou Procura-se Um Amor. Entre as músicas destacaram-se "Procura-se um amor" (Carica e Prateado) essa que tempos depois foi regravada e novamente estourou com Belo. E a bonita e já clássica "Só Dá Eu e Você" (Arlindo Cruz e Franco), sucesso nas rádios. Mas o disco todo é bem legal, eu destacaria também outras músicas: Parceria (Douglas Sampa/Acyr Marques) uma linda poesia que fala de amizade e composição, Negro é Raiz (Thelo do Reco/Fred) um samba bem swingado, Sabor do Pecado (Alceu Maia/Sara Benchimol) cantada toda em coral. Perco a Razão (Salgadinho/Juninho/Papacaça) essa da rapaziada do Katinguelê, eu conhecia essa do 2º Festival da choperia Só Pra Contrariar em que o grupo Sorrindo Assim a defendeu. E tem também a regravação da linda Céu de Pudor, Mar de Paixão (Jorge Aragão/Franco) que foi sucesso nas voz de Roberto Ribeiro e era muito cantada nas rodas de samba. E para encerrar as minhas preferidas, os partidos Fumaça (Carica/Prateado) que conta uma história de cachaceiro que acontece em várias periferias e Fraco no Jogo do Amor (Carica/Prateado/Luisinho) outro samba hilário comparando amor/esporte e um atleta meio azarado na parte amorosa. Essas últimas duas músicas eu conhecia antes da gravação, numa das rodas de samba do grupo Filosofia do Amanhã em que o Juninho do Banjo sempre aparecia e as cantava, até pensava que era de autoria dele. 



A produção do CD foi de Lobão Ramos, Prateado e Arnaldo Saccomani, gravado nos estúdios Artmix e Curumim. Os músicos que participaram, além de Prateado no baixo e Lobão nos teclados, foram em boa parte integrantes do grupo Sensação: Gazu (repique/tantan), Carica (cavaco), Rick (bateria e ganzá), João (pandeiro), Luizinho SP (banjo), Celso (violão/guitarra). Na época o grupo Samba nas Coxas era formado por Thelo do Reco (sic), Wlad no pandeiro, Daniel tantan,  Fernando “Fufi” no banjo e Frederico “Fred”no cavaco, na banda de apoio tinha Marcos na bateria, Christian tantã de marcação, Alê percussão, Jorge no violão e Hamilton no contra baixo.



O grupo se apresentou em diversos programas de TV como Raul Gil e Hebe Camargo e ainda foi tema de reportagem na revista VEJA que falava do fenômeno “pagode universitário paulista”.



No auge da carreira, final dos anos 90, o Samba nas Coxas decide acabar com as atividades do grupo, retornando somente em 2003. Em 2004 eles gravaram o novo trabalho, intitulado Recomeço. E a formação era; Tchelo, David, Jairzinho e Anderson. O grupo lançou três álbuns na carreira; Samba Nas Coxas (Polygram/1994), Esquece e Vem (Fieldezz/1997) e Recomeço (Rio 8 Fonográfico/Tratore/2004). 


Curisosidades: Wladimir Marinho, o Wlad, integrante do grupo foi puxador do Bloco Cascavel que desfilava nos carnavais na região da paulista/ Jardins e no “Pholianafaria”. O integrante Tchelo, formado em educação física, é muito respeitado e tem uma carreira vitoriosa como técnico do futebol, principalmente feminino. Marcello Frigério, como é conhecido no meio futebolístico tem vários títulos no currículo, como por exemplo campeão paulista com a equipe feminina do Palmeiras e mundial com a Seleção do Brasil Feminina Universitária, ambos em 2001. Ele também tem passagens por Juventus, São Bento de Sorocaba, São Caetano, Palmeiras por quatro vezes, São Paulo, Seleção Brasileira Universitária, Seleção Africana, Atlético Oristano da Itália, enfim, uma carreira sólida no futebol feminino. Já no futebol masculino ele treinou o profissional da Inter de Limeira, numa rápida passagem em 2005, as categorias de base do Palmeiras, do infantil e do juvenil. Em 2016 passou por Atlético de Sorocaba e depois no Sport Club Atibaia.



Agradecimentos: Juninho Ferracini (Planeta Samba), Paulinho (Sentimento de Posse), Thelo do Reco, blog samba nas coxas e Revista Ginga Brasil.




Samba das coxas a cabeça, clique na capa










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