segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Repost: Racionais um verdadeiro poderio urbano nas rimas

Racistas otários nos deixem em paz... eis o começo de um dos raps que mais abalaram as minhas estruturas. Eu fiquei louco, que base é essa? (descobri depois que era ESG - UFO), Que letra é essa?. Nada mais nada menos do que Racionais MC’s. Já conhecia os manos da coletânea Consciência Black volume 1, com duas músicas (Tempos Difíceis e Pânico na Zona Sul) que acabaram entrando no solo deles posteriormente.  O grupo foi formado oficialmente após as gravações da coletânea (que é de 1988), já que Edi Rock e KL Jay eram uma dupla da zona Norte e Racionais eram somente Brown e Ice Blue da zona Sul de São Paulo.

O primeiro LP solo saiu em 1990 pelo selo Zimbabwe Records, mas tem prensagem que saiu em 1992, já que a gravadora era pequena e fazia o papel de distribuidora conforme a demanda. Gravado nos estúdios da Fieldezz com produção de KL Jay  e co-produzido por Alexandre e Marcelo (2 Habone). Nunca podemos esquecer que o agitador cultural Milton Salles que por um período foi uma espécie de guru e empresário dos manos, é um dos responsáveis pelo surgimento do grupo. Miltão esta inserido como principal figura para o desenvolvimento e andamento do movimento rap em São Paulo e no Brasil. Pode-se dizer que nesse primeiro trabalho a amizade e até a influência ideologica dele permeou algumas faixas. 

O que o Racionais tem de diferente dos outros grupos? Essa era uma pergunta que sempre vinha a tona quando um álbum dos caras era lançado. E na minha humilde opinião, eles sempre inovam. Conseguem se reciclar dentro de um estilo que acaba por segmentar seus artistas. Se o rapper vacila ele acaba atirando a esmo, se repetindo e até se contradizendo. Somente pessoas muito boas no que fazem e com uma visão além do óbvio, conseguem se diferenciar.

E eles inovavam nas letras, compare a evolução literária/construtiva de Mano Brown/Edi Rock/Ice Blue desde esse LP de 1990 até o lançado em 2002, o Nada Como Um Dia Após o Outro Dia. Você verá que mudam os jargões, mudam as palavras usadas (em 1990 um português mais próximo do culto, em 2002 assumiram as gírias e estilo coloquial). O discurso que antes era meio panfletário / revolucionário, assume ares mais equilibrados e até em raros momentos, festeiro. Mas não pense que se acalmaram da verve crítica. Todo trampo dos Racionais você verá um mosaico que fala da violência periférica, injustiça, polícia, miséria,preconceito racial/social e vida criminal.

Os instrumentais do Holocautos Urbano, também são inspirados no G-funk norte americano e samplers de James Brown e funk setentista/oitentista são uma constante. O que se ouvia de influencia no rap era o que o DJ KL Jay trazia aos ouvidos deles e o que os DJs das grandes equipes tinham. Ou seja o que era lançado la fora em 1987 ou 1988 chegava aqui um pouquinho depois para quem tinha acesso e um ou dois anos depois para quem estava a margem da discotecagem. O que pode ter servido de base por exemplo King Tee, Ice T. Boogie Down Productions, Marley Marl, Eric B e Rakim, Biz Markie, LL Cool J, NWA e por aí vai. Essas bases são mudadas ao longo dos anos, conforme novos parceiros são adicionados as produções (cantores e músicos profissionais no álbum Raio X Brasil e produtores do Instituto em Nada como Um Dia...).

No álbum intitulado Holocausto Urbano o clima é de revolução, com ideais de união entre os negros e luta contra a opressão da polícia e elite.  Discurso que seguiu firme e amplificado no trabalho de 1992, o Escolha Seu Caminho, um album que continha duas músicas longas. no Raio X Brasil há uma certa aproximação musical/popular/brasileira com smplers de Tim Maia,participação de figuras do pagode/samba e rádios de outros segmentos, a Jovem Pan rolando faixas como Homem na Estrada. Tudo isso deu impulso  ao recordista de vendas de 1997, Sobrevivendo no Inferno, um caso a parte no rap brasileiro.

Voltando ao LP de 1990, o cotidiano violento dos justiceiros na letra de Pânico na Zona Sul, combinando com sampler de Mind Power de JB’s. O preconceito racial histórico/brasileiro ocultado, mas colocado para fora em Racistas Otários que tem a frase certeira “...que negro branco e pobre se parecem mas não são iguais...” .  Na letra de Tempos Difíceis e Beco Sem Saída a voz seriamente grave de Edi Rock dando um alerta para o mundo. A herança hedonista de NWA e Eazy E em Mulheres Vulgares, essa base me lembra as produções do Gran Master Ney. E o fosso social e o sotaque bandido/paulistano na criativa Hey Boy.

Para mim um marco do rap nacional, um disco que é símbolo de uma época, o começo dos anos 90 e do hip hop nervoso de São Paulo, faz parte da minha história no rap.

Clique e sinta o clima noventista do rap







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